domingo, 24 de agosto de 2014

Underground – Mentiras de guerra. Projeto Um filme quando valha à pena



Underground – Mentiras de guerra

Diretor: Emir Kusturica
Iugoslávia: 1995

Um grande filme conta histórias, não uma história apenas, mas várias, e não por ter vários personagens, mas por desenvolver várias narrativas simultaneamente. Fala-se de várias coisas, todas entrelaçadas, como, por acaso, é a vida de cada um de nós, de nossas famílias, grupos, países, etc, etc, etc

O que foi a Iugoslávia desmembrou-se depois de uma guerra genocida, que não é fácil de entender, dada a complexidade dos participantes de diferentes regiões, etnias e credos, mas podemos sempre partir do pressuposto que se houve uma guerra é porque havia interesses vários em jogo, e nem sempre interesses bonitos.

Há os interesses pessoais, e temos dois personagens principais, amigos-irmãos, Marko e Blacky, que se divertem, sacaneiam os outros, se viram para sobreviver. Com a invasão inimiga o país fica de pernas para o ar e por um acidente Blacky se fere e Marko o esconde num porão, com mais uma dezena de camaradas comunistas. Lhes pede que produzam algo para lutar contra o inimigo, que segue como invasor. Num determinado momento isso deixa de ser verdadeiro, e o interesse de Marko, de roubar a mulher do amigo prevalece e ele os mantem no porão mesmo com o fim da invasão, mantendo a farsa, uma das mentiras da guerra, que tudo segue igual.

A traição vai de mal a pior, não há saída que não a queda do disfarce, que ocorre por outra guerra, agora a da dissolução da Iugoslávia, e a irrealidade da vida no porão necessitará confrontar-se coma irrealidade do mundo atual, numa outra guerra tão irreal quanto a que eles viveram anos e anos trancafiados.

O filme é uma pérola poética, porque se há algo que só o cinema pode fazer, é traduzir em imagens o que o pensamento faria com mais lentidão ou dificuldade. Há cenas antológicas, e destaco apenas a final, na qual os mortos do filme (só alguns, afinal, é um filme de guerra e morte é o que não falta nunca...) se encontram num novo território, o qual vai separando-se (como a Jangada de Pedra de Saramago) do continente, vagando à deriva, enquanto a festa continua rolando solta...         











    

                              


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