Depois do Casamento - Diretora:Suzanne Bier, 2006
Jacob é um dinamarquês trabalhando com crianças abandonadas
na Índia. Não tem expressão facial nenhuma. Vive cada dia e tenta fazer seu
melhor. O orfanato está para fechar por falta de verba, ele vai à Dinamarca
para apresentar e concorrer a um premio dado por um milionário. A trama segue e
a esta história se cruza sua história pessoal passada, a esposa deste
milionário foi sua namorada muito tempo atrás, a quem ele traiu com uma amiga
desta. Mas se cruzam mais histórias, a do atual marido, que deseja um legado
positivo, a da filha de ambos, que se casa justo no dia seguinte à chegada de
Jacob, e que descobrirá uma nova história com ele.
E são várias histórias, cada uma trazendo novos sentidos
para as outras, e se mantenho parte das histórias ocultas, é porque a forma
como são desveladas no filme é de uma sutileza ímpar que só por isso faz do
filme merecedor de nossa atenção.
Mas há, como em qualquer filme “que valha a pena”, questões
levantadas. Uma delas, mais evidente até pela história inicial, é a razão da
filantropia, do trabalho voluntário, do fazer algo por outrem. Os personagens
estão ao mesmo tempo nisso, e num projeto pessoal, numa necessidade pessoal que
aquela ação filantrópica e voluntária permite (na melhor das hipóteses) e
acoberta (numa visão mais ácida). A bondade aparente é também uma linha de
escape, uma necessidade por outras razões que só fazer o bem.
E há o amor. O tema do casamento poderia facilitar essa
obviedade, mas não é isso. A diretora teve a habilidade de fazer que todas as
relações importantes para a trama do filme estivessem pautadas pelo amor entre
esses personagens, que se descobrem e redescobrem, se aproximam,
surpreendem-se, se temem e por vezes odeiam, e estão vinculados por um afeto
genuíno que é o que permitirá o desenrolar ao mesmo tempo surpreendente e
inevitável do filme.
Enfim, várias surpresas e um andamento muito cuidadoso com
temas delicados, uma pérola de um cinema que raramente chega até aqui!