segunda-feira, 16 de julho de 2012

Depois do Casamento - Projeto Um filme quando valha a pena


Depois do Casamento - Diretora:Suzanne Bier, 2006

Jacob é um dinamarquês trabalhando com crianças abandonadas na Índia. Não tem expressão facial nenhuma. Vive cada dia e tenta fazer seu melhor. O orfanato está para fechar por falta de verba, ele vai à Dinamarca para apresentar e concorrer a um premio dado por um milionário. A trama segue e a esta história se cruza sua história pessoal passada, a esposa deste milionário foi sua namorada muito tempo atrás, a quem ele traiu com uma amiga desta. Mas se cruzam mais histórias, a do atual marido, que deseja um legado positivo, a da filha de ambos, que se casa justo no dia seguinte à chegada de Jacob, e que descobrirá uma nova história com ele.

E são várias histórias, cada uma trazendo novos sentidos para as outras, e se mantenho parte das histórias ocultas, é porque a forma como são desveladas no filme é de uma sutileza ímpar que só por isso faz do filme merecedor de nossa atenção.

Mas há, como em qualquer filme “que valha a pena”, questões levantadas. Uma delas, mais evidente até pela história inicial, é a razão da filantropia, do trabalho voluntário, do fazer algo por outrem. Os personagens estão ao mesmo tempo nisso, e num projeto pessoal, numa necessidade pessoal que aquela ação filantrópica e voluntária permite (na melhor das hipóteses) e acoberta (numa visão mais ácida). A bondade aparente é também uma linha de escape, uma necessidade por outras razões que só fazer o bem.

E há o amor. O tema do casamento poderia facilitar essa obviedade, mas não é isso. A diretora teve a habilidade de fazer que todas as relações importantes para a trama do filme estivessem pautadas pelo amor entre esses personagens, que se descobrem e redescobrem, se aproximam, surpreendem-se, se temem e por vezes odeiam, e estão vinculados por um afeto genuíno que é o que permitirá o desenrolar ao mesmo tempo surpreendente e inevitável do filme.

Enfim, várias surpresas e um andamento muito cuidadoso com temas delicados, uma pérola de um cinema que raramente chega até aqui!


segunda-feira, 2 de julho de 2012

O filho terno - Projeto Frankenstein Projeto Um filme quando valha a pena


O filho Terno –  Projeto Frankenstein: Kornél Mundruczó

Filmaço Hungaro, desses que são imperdíveis porque sim. Da Hungria temos o maravilhoso Bela Tarr com uma filmografia intensa, onírica, radical na linguagem e intenções, só por ele a Hungria já merecia atenção. Agora vi este filme que tem desde o nome, uma conexão com o romance de Mary Shelley, Frankenstein, pouco lido mas muito assistido em diversas e usualmente medíocres adaptações.

Conhecida história do médico louco que resolve criar um ser vivo a partir de um corpo morto. Não há quem não tenha visto desenhos animados, histórias em quadrinhos, filmes classe B (C, D E ...) e outras referencias à idéia frankensteiniana. Meio na piada, deboche, meio no querer fazer susto, é sempre algo que beira o ridículo ou a gosma repulsiva.

Bem, aí temos uma apropriação do diretor Kornél Mundruczó, uma leitura, uma ressonância, para usar um conceito que nos é tão caro, do romance, e veremos um filme no que não haverá nenhum dos clichês do gênero e o melhor, sabemos o tempo todo que é de Frankenstein que estamos falando, o filme é embebido naquela mitologia, conseguindo a proeza de atualizá-la de um modo criativo e contemporâneo interessantíssimo.

Um diretor de cinema resolve fazer seleção para seu novo filme, e pede a cada candidato que chore frente à câmera. Dos vários e patéticos candidatos um chama a sua atenção, não pela expressividade, já que parece um robô, mas por algo mais intuitivo. Uma sequencia de crimes ocorrerá, e não vou contar para não estragar o encadeamento do filme, mas no que nos interessa, uma tentativa desesperada desse diretor fazer com que esse candidato se transforme em gente, que daquela massa informe e insensível nasça uma pessoa afetiva.

Essa é a chave que me encantou: tomar o mito Frankenstein como uma metáfora (que é o que ele é e sempre foi, desde o romance de Shelley) e não como uma concretude, uma literalidade. O Frankenstein como a morte afetiva, a insensibilidade das e nas relações, a pobreza não só de movimentos e expressões, mas de recursos pessoais, criatividade, beleza.

E eu me perguntava como é que um filme bacana destes ia terminar, se com uma finalização a lá auto-ajuda, com um fim abrupto, com algo inesperado. E o fim não decepciona. Na verdade seria o único fim possível para uma empreitada desde sempre destinada ao fracasso, da tentativa de um pai tornar sua criatura monstruosa algo melhor. Mas tampouco conto aqui o que acontece, deixo a indagação e a curiosidade para estímulo!!