Andrei Tarkovsky – Stalker
Assistir Tarkovsky é sempre e irremediavelmente uma
experiência. Ele os retira de onde estamaos, de onde achávamos que estávamos,
de onde gostaríamos de estar, e nos proporciona a possibilidade de outro lugar.
Não é todo filme que agüenta duas vezes, em menor numero ainda são os cineastas
que agüentam ter toda sua obra revista, “trivista”, multirevisitada e sempre,
SEMPRE, com um resultado positivo e estimulante.
Revi, pela 3ª ou 4ª vez, depois de algum tempo este Stalker
de 1979. Naquela época, só para localizar nossa memória, o universo era um
lugar bacana, com o bem lutando contra o mal numa revisão intergalática da
cavalaria por meio do primeiro episódio da (então) trilogia Star Wars. A força ainda era uma coisa legal que
salvaria o universo e por aí vai. No mesmo ano do lançamento de Stalker, saiu
Aliens – O oitavo passageiro, filme sombrio que explicitava que “no espaço ninguém
pode ouvi-lo gritar”, algo bem diferente da papagaiada boba e pueril de ET- O
extraterrestre 3 anos depois, mas aí estamos estendendo demais a digressão
contextual...
Stalker é um filme no qual o tempo se alonga. Como por sinal
em todo filme do Tarkovsky. O guia para uma área proibida chamada “Zona”, que
leva os visitantes a um quarto no qual seus desejos mais verdadeiros seriam
atendidos é o Stalker. São poucos, e conhecem a volatibilidade do território.
Como o castelo do Graal, cujo castelo está sempre em um lugar distinto, a Zona
é um território mutante, no qual as armadilhas, trilhas e atalhos mudam de um
momento para o outro, os perigos decorrem das intenções, e os atos dos que
entram lá modificam a configuração o que lá ocorre, uma metáfora absolutamente
linda para a vida humana...
Um físico e um escritor contratam o Guia/profeta Stalker. Um
cientista e um artista, e o caminho é um caminho de desmascaramento e
desnudamento das intenções e possibilidades do que efetivamente estes
personagens arquetípicos são, destruição e engodo. A possibilidade de entrar no
quarto e desejar só pode ocorrer pelo
acreditar naquilo. Ninguem deseja
acreditar.
Eles voltam ao mesmo bar do início do filme, mas a Zona
agora está com o Stalker, há algo que ele trouxe de lá... não conto porque é uma
das muitas belezas do filme, uma das muitas, porque seja nas imagens
belíssimas, na narrativa especial, nas atuações precisas ou nas possibilidades
de interpretação e aberturas, o filme é múltiplo. Por isso assisti-lo muitas vezes
é sempre uma novidade, por isso Tarkovsky é Tarkovsky.
O filme está disponível em DVD no Brasil, recomendado para
assistir com tempo!