E agora, aonde vamos?
(FRA/EGI/Líbano/ITA.2011)
Diretora: Nadine
Labaki
Quando um filme inicia com um grupo de mulheres de preto
caminhando lentamente, e nos passos vai-se formando um ritmo, e o ritmo leva a
uma coreografia simples, mas muito significativa, você pode esperar qualquer
coisa de bom, porque ali está um início que afirma uma visão, um modo de
entender, um modo de poeticamente fazer a leitura e a implicação da delicadeza
e da atenção no contar uma história.
No século 4 AC Aristófanes escreveu Lisístrata. Como
resumão, a mulherada grega cansada das perdas dos homens que iam para a guerra
e esta não terminava nunca, resolveu fazer o que as mulheres deviam fazer
sempre: assumir o controle, porque homem no comando dá problema, vide o mundo
onde vivemos...
E aquele momento se resolvia cenicamente de modo irreverente
e caustico, só para lembrar, cidadão era o homem livre todo o resto, o que
incluía a ampla gama de escravos, crianças velhos gagás e mulheres, não
contava. Então não deixa de ter uma radicalidade extrema Aristófanes colocar a
mulher como pivô capaz de transformar uma situação que os manés não conseguiam,
e nem conseguem.
Passam-se milênios e estamos com mais um filme a colocar as
coisas como elas são: uma aldeia é compartilhada por muçulmanos e cristãos, que
convivem bastante bem. Quando um conflito emerge no âmbito nacional, os homens
da aldeia se ouriçam para brigar cada um com seu vizinho.
E cabe à mulherada encontrar soluções inusitadas e
irreverentes (para dizer o mínimo) que evitem que o conflito recrudesça e eles
não se matem (porque de uma hora para outra parece que só isso importa na vida
de um homem...). Uma das últimas soluções é exatamente trocar de crença
religiosa: já que todos os cristãos são ruins, torno-me cristã, vais me
machucar meu filho? Já que os muçulmanos não prestam, passo a amar Alá, e aí,
vou apanhar por isso marido?
E o filme termina com um cortejo fúnebre, e nessa confusão
de religiões e de quem é quem, e do que somos, um do grupo pergunta ao chegar
ao cemitério, dividido pela estradinha da vila com os cristãos enterrados de um
lado e os muçulmanos do outro: E agora, aonde vamos?
Imperdível!