O equilibrista
(EUA.2008)
Diretor: James Marsh
Um filme bom é aquele que você lembra, quer assistir de
novo, assiste e termina com a firme impressão que o filme é bom mesmo!
Este é um desses filmes. Quando ganhou o Oscar de melhor
documentário em 2009 achei que valia a pena dar uma olhada, sempre com um pé
atrás porque Oscar não é premio para a qualidade, mas para a Indústria do
cinema então...
E amei. Passados anos resolvi rever, em sessão familiar, e
descobrir se minhas lembranças teriam se transformado em outra coisa. Não. O
filme é de uma poesia rara no cinema e mais rara ainda num documentário, que
por definição do gênero, “documenta” e, com isso, deixa usualmente pouca margem
para a poesia e a imaginação.
Um equilibrista e seus amigos tramam estender um cabo entre
as torres gêmeas de Manhattan, estamos no ano de 1974, os EUA não eram a
potência que se tornaram depois, não criavam tantos inimigos como criaram
depois e nem tampouco tinham passado pelo 11 de setembro que... destruiu as
torres gêmeas! Ninguém nunca mais poderá fazer isso de novo! Como um verdadeiro
ato poético, ocorreu uma única e irrecuperável vez.
Toda a trama da preparação, as visitas à construção das
torres, os preparativos meticulosamente detalhados, a reconstrução do “como
teria sido”, as idas e vindas em flashbacks, entrevistas de época e atuais, com
todos os participantes, tudo isso vai construindo um clima emocional,
envolvente, que culmina com as imagens do dia da travessia.
E ali entendemos o que é arte. Ali vemos que um equilibrista,
alguém que não relacionamos diretamente com o meio artístico, mas com a técnica
do equilíbrio e do circo, concretizar depois de muitas horas de preparação, um
espetáculo: o espetáculo de criar poesia na cidade, e de fazer para todos um
evento único, abrir um espaço de ruptura com a correria, os sentidos do viver
urbano e do viver em si: o risco da morte valendo a beleza do desafiar.