terça-feira, 11 de setembro de 2012

O equilibrista - Projeto Um filme quando valha a pena



O equilibrista
(EUA.2008)
Diretor: James Marsh


Um filme bom é aquele que você lembra, quer assistir de novo, assiste e termina com a firme impressão que o filme é bom mesmo!

Este é um desses filmes. Quando ganhou o Oscar de melhor documentário em 2009 achei que valia a pena dar uma olhada, sempre com um pé atrás porque Oscar não é premio para a qualidade, mas para a Indústria do cinema então...

E amei. Passados anos resolvi rever, em sessão familiar, e descobrir se minhas lembranças teriam se transformado em outra coisa. Não. O filme é de uma poesia rara no cinema e mais rara ainda num documentário, que por definição do gênero, “documenta” e, com isso, deixa usualmente pouca margem para a poesia e a imaginação.

Um equilibrista e seus amigos tramam estender um cabo entre as torres gêmeas de Manhattan, estamos no ano de 1974, os EUA não eram a potência que se tornaram depois, não criavam tantos inimigos como criaram depois e nem tampouco tinham passado pelo 11 de setembro que... destruiu as torres gêmeas! Ninguém nunca mais poderá fazer isso de novo! Como um verdadeiro ato poético, ocorreu uma única e irrecuperável vez.

Toda a trama da preparação, as visitas à construção das torres, os preparativos meticulosamente detalhados, a reconstrução do “como teria sido”, as idas e vindas em flashbacks, entrevistas de época e atuais, com todos os participantes, tudo isso vai construindo um clima emocional, envolvente, que culmina com as imagens do dia da travessia.

E ali entendemos o que é arte. Ali vemos que um equilibrista, alguém que não relacionamos diretamente com o meio artístico, mas com a técnica do equilíbrio e do circo, concretizar depois de muitas horas de preparação, um espetáculo: o espetáculo de criar poesia na cidade, e de fazer para todos um evento único, abrir um espaço de ruptura com a correria, os sentidos do viver urbano e do viver em si: o risco da morte valendo a beleza do desafiar.





domingo, 9 de setembro de 2012

Ulysses - James Joyce - Projeto Um livro Sempre



Ulysses – James Joyce

Ler Ulysses é uma aula de literatura. Não uma aula didática, parada ou chata, mas uma aula completa, inquieta, rica, interminável e daquelas que você pede para não terminar mesmo, porque ali está tudo: tudo o que poderia já ter sido escrito, tudo o que se escreveu e tudo o que possivelmente se escreverá nas próximas décadas e talvez séculos. Joyce é um rio, riverun, mas esta é outra história...

Reler Ulysses é redescobrir narrativas. Se a odisséia é o segundo livro dos gregos, é nele que Ulisses mostra seu valor para voltar a casa. Se Joyce retoma esse nome, é porque deseja fazer disso um mote e, por 18 capítulos, cada um estruturado com um tipo diferente de narrativa, centrado em um personagem, com um órgão do corpo humano como eixo , cores e características distintas, ele nos inserirá não numa versão modernizada da Odisséia, mas num romance atual sobre nosso “ulissismo”.

E uma simples ida ao açougue ganha a dimensão de uma viagem sensorial. Um café da manhã uma sequencia de descobertas, e uma das múltiplas beleza do livro é esta: cada ato, cada momento, cada situação é banal somente se a vivemos na banalidade, desenraizamento e perda da perspectiva maior que pode ter, quando inserida no conjunto da vida social que temos.

Joyce escreveu depois, muito depois, o Finnegans Wake. Livro muito difícil que tem uma linguagem onírica construindo uma narrativa na que entram historias, História, mitos, relatos, filosofia etc etc etc e muitos etecéteras. Desta vez que releio o Ulisses começo a perceber que o fluxo de consciência que atravessa a ação, o pensamento dos personagens que intercala os diálogos e situações é um “degrau” para o que viria depois, no Finnegans. Aqui ainda conseguimos seguir o pensamento, a lógica do que está passando na cabeça de quem pensa. No FW a coisa vai ficar mais difícil de acompanhar pela lógica desperta, porque é um sonho ou pelo menos um estado onírico.

Então é este um dos grandes livros do século XX. Um dos que define o que pode ser um romance a partir de então, o que pode ser um “herói” a partir disso. Não por acaso o livro de Antony Burguess sobre Joyce é Homem Comum Enfim, pois é na abertura para que cada um de nós seja na sua própria vida o Ulisses que faz do viver a aventura que o livro se funda e incita a leitura!!