quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Fiódor Dostoievsky - O Duplo - Projeto um livro sempre:


Fiódor Dostoievsky - O Duplo

Dentro da literatura convencionou-se que aquela categoria que trata de situações inverossímeis, impossíveis ou fantasiosas, tem o nome de literatura fantástica. Assim, escritos de ficção científica, Tolkien, Philip Dick e congêneres, entram numa caixinha e confortavelmente sabemos o que esperar ao iniciar um livro deles.

Bem, a coisa se complica quando vamos olhar a questão da literatura como a construção de um universo a parte do mundo cotidiano, função de qualquer das formas artísticas. Se complica também se ampliamos o foco dos autores evidentemente “fantásticos” como os citados acima, e vemos que mesmo em autores “realistas” (o que pode haver de realista no escrever, sobre o que quer que seja é uma boa questão...), temos situações “fantásticas”.

E este é o caso. Dostoievsky que iniciara sua carreira com Pobres Gentes, publica logo em seguida este O Duplo.  Texto relativamente curto, com situações completamente absurdas, criadas pela chegada de um homem exatamente igual a um outro, do qual invade a vida, o trabalho, as amizades, desafetos, desorganizando uma vida que já antes da chegada do duplo não era lá essas coisas...

Não desejo entrar em minúcias da tensão conseguida, lembra-me a dos filmes orientais, nos que parece que ninguém faz as perguntas que facilmente solucionariam (do nosso ponto de vista ocidental) os problemas que ali se apresentam mas...ninguém parece notar, nem questionar... nem preocupar-se com o que acontece ali.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

TOMBOY - Projeto Um filme quando valha a pena


TOMBOY

Outra pérola o cinema europeu. A diretora Céline Sciamma neste filme de 2011 consegue a delicadeza de contar uma história de um tema difícil e complexo, com a sutileza, leveza e beleza que o tema merece.

Uma família muda-se, a interação com as outras crianças do conjunto habitacional ocorre do modo que mais ou menos se espera, e “Michel” se aproxima de Liza, uma residente e a única menina adolescente, por isso também excluída de alguns jogos.

A história segue, a mãe de Michel está grávida, possivelmente de um menino, sua irmã menor cada vez mais participa das interações, até que o elemento chave das interações entre “Michel” e a turma se desvela na história (para o espectador ele já ficar evidente logo ao início do filme: Michel é na verdade Laura...

A maravilhosa condução nos priva da bobajada que um filme roliudiano faria: insights psicológicos, tentativas de explicar o travestismo e Laura e a omissão dos familiares, discussão da homossexualidade entre Laura e Liza etc etc etc. Por sorte é cinema francês, e da melhor qualidade!

Então não só não há nada disso, como o enfrentamento da situação com a firmeza que a situação pede, mas sem o jogo de culpas e investigações que estamos cada vez mais acostumados a ver no cinema e na vida quando algo ocorre.

Destaque para a atuação da menina Zoé, que faz Michel/Laura, e que nos deixa a dúvida o tempo todo se é um ator ou atriz mirim, a viver a ambigüidade e a possibilidade de ser mais que o determinado.


Como tampouco acredito que o filme aparecerá por aqui, colo abaixo o link para o repositório universal da humanidade...
http://www.megaupload.com/?d=DMWEPMZ7

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Uma Família - Projeto Um filme quando valha a pena


Uma Família

Assisti a este filme há vários dias, mas decidi esperar para escrever e recomendar, porque o filme merece ser recomendado, mas antes de tudo, ele merece tempo.

Não é sempre que o cinema dinamarquês chega aqui, então quando aparece algo a gente aproveita para conferir e ver o que se está fazendo e propondo. Este filme, se for representativo do momento cultural do país, indica que temos de ver muitos filmes de lá...

Quem gostou do maravilhoso “ As invasões bárbaras”, provavelmente vai adorar este aqui. Ecos do filme de Dennis Arcand se fazem ouvir em alguns momentos, sem soar nunca como plágio nem como inspiração, mas como cumplicidade, tocar temas importantes com respeito, carinho, delicadeza, sagacidade.

O dono de uma padaria tradicional descobre que o câncer que achava curado voltou com carga total, e a família se organiza, movimenta, choca, escapa, sofre, vive com as nuanças e possibilidades de cada membro. Com cada filho um modo de viver, falar, omitir, esperar; com a nova esposa, com o mundo.

A dureza da doença e da situação é incrementada pela dureza do protagonista, seco, árido, áspero, rígido num grau quase insuportável, carregando sofrimento e tristeza, cobrança e expectativa, medo por si e pela empresa, que provavelmente acabará, sem herdeiro apto a dar continuidade.

Uma nota sobre as interpretações, todas magníficas, humanas, densas, maravilhosas num filme tão duro.

E uma nota final sobre o final do filme, uma verdadeira aula de como não ser imbecil e como não tratar o expectador como idiota: é possível fazer finais felizes sem babaquices. Um elogio à vida, à certeza que apesar de tudo, e às vezes por causa de tudo, é possível viver.

Como o filme possivelmente não chegará aos cinemas ou vídeos, colo abaixo um link, da videoteca universal da humanidade...

http://www.megaupload.com/?d=XY2LZ58O