Fiódor Dostoievsky - O Duplo
Dentro da literatura convencionou-se que aquela categoria que trata de situações inverossímeis, impossíveis ou fantasiosas, tem o nome de literatura fantástica. Assim, escritos de ficção científica, Tolkien, Philip Dick e congêneres, entram numa caixinha e confortavelmente sabemos o que esperar ao iniciar um livro deles.
Bem, a coisa se complica quando vamos olhar a questão da literatura como a construção de um universo a parte do mundo cotidiano, função de qualquer das formas artísticas. Se complica também se ampliamos o foco dos autores evidentemente “fantásticos” como os citados acima, e vemos que mesmo em autores “realistas” (o que pode haver de realista no escrever, sobre o que quer que seja é uma boa questão...), temos situações “fantásticas”.
E este é o caso. Dostoievsky que iniciara sua carreira com Pobres Gentes, publica logo em seguida este O Duplo. Texto relativamente curto, com situações completamente absurdas, criadas pela chegada de um homem exatamente igual a um outro, do qual invade a vida, o trabalho, as amizades, desafetos, desorganizando uma vida que já antes da chegada do duplo não era lá essas coisas...
Não desejo entrar em minúcias da tensão conseguida, lembra-me a dos filmes orientais, nos que parece que ninguém faz as perguntas que facilmente solucionariam (do nosso ponto de vista ocidental) os problemas que ali se apresentam mas...ninguém parece notar, nem questionar... nem preocupar-se com o que acontece ali.