O retrato de Dorian Gray
Oscar Wilde
Ed. Nova Cultural,
2003.
Ler um Clássico é um risco. Às vezes já sabemos o que vamos
encontrar, de tão disseminado que o conteúdo foi; outras imaginávamos uma coisa
e encontramos outra (para bem e para mal...); outras ainda nos perguntamos como
aquela porcaria merece o status de clássico...
Dorian Gray é dessas histórias que todos ouvimos. O quadro
que envelhece enquanto seu objeto permanece belo e jovem como quando foi
pintado. Síntese possível, mas muito, MUITO aquém do texto. Pois ali há de fato
essa questão, mas há uma linda discussão sobre a beleza e o tempo. Sobre o amor
e a transitoriedade das coisas, pessoas, afetos e histórias.
O quadro no qual o retrato do jovem e belo e puro Dorian
Gray foi pintado, recebe pela vida que leva a pessoa Dorian Gray as marcas das
experiências, enquanto ele, o homem, por mais crueldades que realize, atos
indecentes ou imorais, segue lindo, puro e imaculado: seu quadro é a expressão
da própria consciência de si, separada dele mesmo como um outro.
E ele se relaciona com o mundo sem preocupar-se. Tem
dinheiro e beleza e cinismo, sente-se inatingível, trata a todos com o desdém
que a imortalidade daria ao Homem, ele não se modifica com a vida, só o quadro,
ele não sofre com a vida, só o quadro, ele não vive, só o quadro.
Ele passa pelo mundo. Cavando cada vez mais um buraco no
qual se perde, o buraco do não precisar preocupar-se nem temer nada nem
ninguém. A cada ação seu retrato piora, fica mais cruel, seco, sangrento, como
ficaria ele se seu corpo recebesse as marcas de sua própria vida. Uma imagem
belíssima do que é o corpo, do que são as marcas, do que é a vida.
Claro que em, algum ponto isto necessitaria parar e, não é
de estranhar-se o final que Wilde deu ao livro, existiria outro final possível?
Desde os gregos a hybris, a
desmedida, sempre caracteriza o homem e sempre termina do mesmo modo, com o
único limite do qual não se escapa...