sábado, 2 de agosto de 2014

Medea - Projeto Um filme quando Valha a pena



Medea

Dinamarca: 1988
Diretor: Lars Von Trier

Como se faz para tornar filme um mito? E um mito de outro tempo, outra cultura, outros valores, outro tudo? Temos 3 opções: a primeira é fazer um filme “de época” dependendo do mito e dos recursos para a reconstituição da “época” em questão, o filme tenderá mais ao ridículo e menos ao mito, e esse é um problema comum, vide os filmes “clássicos dos anos 60/70 sobre temas míticos.

A segunda é fazer uma atualização do tempo da história, colocando-a na atualidade. Isso favorece uma identificação com a narrativa, mas pode fazer um estrago considerável se não se definir ao que se deseja ser fiel, à história ou a uma leitura dessa história. Penso no Anna Kerenina, ou no Karamazovi como exemplos atuais de filmes que foram nessa segunda linha e se saíram bem.

E a terceira é chutar o pau da barraca, e arriscar-se no que há de mais difícil no território do mito, que é criar o clima de irrealidade que faz do mito uma história inverossímil mas, pela resonância simbólica e emocional, verdadeira – nessas esferas.

Lars von Trier arriscou-se nesta última possibilidade com um agravante a mais, 19 anos antes dele, Pier Paolo Pasolini havia filmado o mesmo mito tomando a mesma vertente de irrealidade simbólica para contar a história da mulher traída pelo amado, que para puní-lo, mata sua esposa, e os proprios filhos.

E o bacana é dizer que o jovem von Trier (tinha então 28 anos) mandou bem. Criou uma atmosfera que não se prende a tempos nem figurinos de época, criando ao mesmo tempo um ambiente estranho pela cenografia criativa no uso de telas intermediárias, onde projetava imagens/cenários e interações; e figurinos e locações indefiníveis.

Muitos anos e filmes depois ele criou o movimento DOGMA, que propunha realizar filmes dentro de determinada cartilha. Cada vez mais acho que ele se propõe desafios para ver como sair deles, fez apenas um filme “dogmático”, Os Idiotas, e parece que aprendeu o que queria ali. Do mesmo modo, desafiou-se a tomar um roteiro do gigante do expressionismo alemão Dreyer (Carl Theodor Dreyer 1889–1968) e ver como fazia não uma cópia, mas uma homenagem, com enquadramentos, fotografia e interpretação que fossem desdobramentos dos feitos pelo mestre. Imagens belíssimas (vide alguns fotogramas abaixo), interpretações cuidadosas e uma experiência valiosa de cinema, com C maiúsculo!










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