Mãe e Filho
Mat i syn
Aleksandr Sokurov
Rússia – 1997
Um grande e muy querido amigo fez a síntese que define o
filme. Cada tomada é uma fotografia. E se a síntese é sintética demais lamento,
mas é isso mesmo. Sokurov é o herdeiro de Tarkovsky, entendi isso vendo este
filme. O tempo é uma consequência, as cenas se desenvolvem sobre uma tomada da Câmera,
e nessa tomada algum movimento, dos personagens, da paisagem, do trem distante,
mas a Câmera fixa assume que recorta do mundo uma fotografia, o que ocorre,
ocorre NA fotografia.
Não há muito a dizer sobre a história do filme. Um filho
cuida da Mãe que está visivelmente doente e debilitada, sequer conseguindo
andar. Leva-a a um passeio no colo, lê alguns postais que encontrou alhures,
conversa com ela e lhe oferece comida ou bebida. Nada de grandiloquente. Nada espetacular.
Tudo num ritmo carinhoso, cuidadoso, amoroso, amoroso, amoroso.
Entretanto não é chato, cada cena, que repito, é uma tomada fotográfica,
tem força marcante. A narrativa se desenvolve por meio de imagens fortíssimas,
que conduzem a tensão dramática de modo ao mesmo tempo forte e sutil. Forte
pela imagem, sutil pela narrativa, pelos eventos, pela atuação espetacular dos
dois únicos atores em cena. É a reafirmação de uma forma de ver o cinema:
quando há atores competentes em cena, o diretor pode ir tomar um café. Eles seguram
o filme. Neste caso ainda bem que Sokurov não foi à esquina, mas fez o estrato
sobre o qual os atores num trabalho minimalista mas não por isso menos
expressivo, deitaram (literalmente) e bordaram. Um trabalho ao mesmo tempo simples de fotografia, mas muito criativo, para criar uma atmosfera intimista `as vezes, onírica outras, criando essa incerteza sobre a realidade ou o simbolismo do que esta se passando ali.
Não é um filme para quem gosta de histeria, histrionismo ou
facilidade narrativa, mas premia de modo inequívoco a gratidão de receber um
presente de beleza e sensibilidade.