Nascido para matar
Diretor: Stanley
Kubrick
Inglaterra: 1987
Kubrick
começou sua carreira com um clássico filme de guerra, o estupendo Glória feita
de sangue (Paths of glory, 1957).
Maravilhoso retrato da insanidade que é a guerra, dos que sofrem efetivamente
com ela, dos mecanismos esquizofrênicos, psicóticos, surtados e que mais
insanidades queiramos indicar, que conduzem os rumos das decisões dos que
comandam os exércitos. Anos depois fez outro clássico (o que fazer se dos 12
filmes realizados efetivamente, uns 9 são clássicos?), Dr. Fantástico (Dr.
Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964), outro
flagelo crítico, desta vez pelo humor absolutamente corrosivo de uma narrativa
totalmente irreverente, mas igualmente insana.
Bom,
pelo visto não era suficiente, e ele decidiu que precisava fazer outro, e fez,
e o melhor, é outro clássico!!
E
Nascido para matar é uma história, ou talvez fosse melhor dizer duas: a
primeira sobre o treinamento dos recrutas que de inúteis passarão a Fuzileiros,
maquinas de matar forjadas na base da humilhação e treinamento para a ação. Essa
primeira parte tem desde momentos divertidos, pelo nervoso que passamos ao ver
o bullying rolando solto encima do
cristo da vez, o gordo Pyle, a angustiantes, por percebermos que o que se está
fazendo é a dissolução de indivíduos, para transformá-los em massa de ataque. Sem
pensamento, sem crítica, sem sentimento, apenas ação.
A
segunda história é a chegada desse grupo seleto ao Vietnam, e um dos trunfos do
filme é exatamente a dissociação entre a 1ª e a 2ª história: elas não tem nada
a ver uma com a outra!! O que é curiosíssimo, porque deveria-se imaginar que um
treinamento é para adequar o indivíduo a alguma ação ou contexto, mas o
treinamento não tem essa função, serve unicamente para seu embrutecimento. Ao
chegarem lá os Fuzileiros se deparam com o universo da guerra, a falta de
sentido, a falta de compreensão, pelo não acolhimento dos vietnamitas, que não
entendem que eles, os soldados, estão ali para ajuda-los (não pensar dá
nisso...)
Há
um longo confronto com um atirador de elite, um sniper, que tarda a ser localizado e aniquilado, e faz nesse
interim uma série de mortos gringos, uma metáfora translúcida da desproporcionalidade
de recursos que não inviabiliza que se derrube o golias da vez.
E
por fim, o fim, patético como não poderia deixar de ser, e magistralmente
feito, os idiotizados indo de volta para casa (casa?) ao som da musiquinha do Mickey
mouse.
É
muito fácil tanto resvalar para os filmes idiotas de guerra, que tomamos lado
de um dos combatentes, e imediatamente desejamos que o outro perca, como fazer
um filme crítico à guerra apelando para uma mensagem moralista que não se
sustenta frente à humanidade real. Difícil é provocar-nos a entender que a
situação não é boa, mas não há nenhuma saída fácil.
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