quinta-feira, 24 de julho de 2014

Alpeis - Projeto Um filme quando valha a pena



Alpeis

(Grécia: 2011)
Diretor: Giorgos Lanthimos

E o que você faria, se enquanto chora a perda de alguém muito próximo, se aproximasse a enfermeira do hospital e lhe dissesse que poderia substituir sua filha que acabara de morrer, fazendo duas visitas de duas horas por semana? E que com o tempo isso seria até melhor que a relação que você tinha com ela? E que com o tempo sua dor se mitigaria e você passaria a gostar disso? E que usando as roupas dela, repetindo alguns de seus gestos e aprendendo com você como ela deveria agir, ela passa a fazer parte da sua vida, como se sua filha não tivesse morrido?

O cinema grego é especial pelas idéias surreais que promove na tela, este é mais um exemplo deste tipo de roteiro meio louco e esquisito, mas fantástico na provocação, que segue a mesma linha do recentíssimo Cópia fiel de Kiarostami, o que define a identidade? Porque sou eu e não o outro? Quem disse que eu não posso ser um outro para você?

O filme anda uns 25 minutos até que você comece a imaginar o que é que está ocorrendo ali, e você vai confirmar isso ainda um pouco mais tarde e eu acho essa suspensão de sentido maravilhosa: não se entrega fácil o que tem valor!! E é necessário acreditar na força do roteiro e dos atores para permitir-se não seguir o padrão barato de cinema...

São 4 os membros da equipe Alpes, que tem esse nome dado de uma forma séria (no filme) mas absolutamente absurda para nós que o vemos: porque os Alpes são tão maravilhosos que poderiam substituir qualquer outra montanha do mundo sem que isso trouxesse nenhum problema... mais ou menos a função dos 4 membros, que participam da vida de várias pessoas, substituindo entes queridos perdidos a pouco, tomando chá, lendo-lhes notícias, indo dançar, forjando cenas de adultério, fornicando... revivendo o que fora a vida com aquele morreu, impedindo que o vazio se faça notar, pela inserção de um substituto.

E o filme segue, e ao final, depois de várias reviravoltas importantes, ficamos com a dúvida central: quem é que está substituindo quem para quem?



Nenhum comentário:

Postar um comentário