Alpeis
(Grécia: 2011)
Diretor: Giorgos
Lanthimos
E o que você faria, se enquanto chora a perda de alguém
muito próximo, se aproximasse a enfermeira do hospital e lhe dissesse que
poderia substituir sua filha que acabara de morrer, fazendo duas visitas de
duas horas por semana? E que com o tempo isso seria até melhor que a relação
que você tinha com ela? E que com o tempo sua dor se mitigaria e você passaria
a gostar disso? E que usando as roupas dela, repetindo alguns de seus gestos e
aprendendo com você como ela deveria agir, ela passa a fazer parte da sua vida,
como se sua filha não tivesse morrido?
O cinema grego é especial pelas idéias surreais que promove
na tela, este é mais um exemplo deste tipo de roteiro meio louco e esquisito,
mas fantástico na provocação, que segue a mesma linha do recentíssimo Cópia fiel de Kiarostami, o que define a
identidade? Porque sou eu e não o outro? Quem disse que eu não posso ser um
outro para você?
O filme anda uns 25 minutos até que você comece a imaginar o
que é que está ocorrendo ali, e você vai confirmar isso ainda um pouco mais tarde
e eu acho essa suspensão de sentido maravilhosa: não se entrega fácil o que tem
valor!! E é necessário acreditar na força do roteiro e dos atores para
permitir-se não seguir o padrão barato de cinema...
São 4 os membros da equipe Alpes, que tem esse nome dado de
uma forma séria (no filme) mas absolutamente absurda para nós que o vemos:
porque os Alpes são tão maravilhosos que poderiam substituir qualquer outra
montanha do mundo sem que isso trouxesse nenhum problema... mais ou menos a
função dos 4 membros, que participam da vida de várias pessoas, substituindo
entes queridos perdidos a pouco, tomando chá, lendo-lhes notícias, indo dançar,
forjando cenas de adultério, fornicando... revivendo o que fora a vida com
aquele morreu, impedindo que o vazio se faça notar, pela inserção de um
substituto.
E o filme segue, e ao final, depois de várias reviravoltas
importantes, ficamos com a dúvida central: quem é que está substituindo quem
para quem?
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