quinta-feira, 10 de julho de 2014

Cesar deve Morrer - Projeto Um filme quando valha a pena



Projeto Um filme quando valha a pena: Cesare deve morire

 (Italia: 2012)
Paolo e Vittorio Tavianni


Não se pode dizer que a idéia seja nova, Al Pacino já o havia feito magistralmente em seu Ricardo III, uma leitura instigante da obra de Shakespeare que mesclava a encenação, a preparação, uma discussão histórica e filológica da peça e de seus sentidos. Sempre é uma surpresa ver como se pode a partir de uma obra prima criar outra obra prima, e mais que isso, uma obra sintonizada com a atualidade que vivemos no agora e não na recriação artificial dos entões ingleses da época do bardo.

Uma penitenciária italiana, um projeto de trabalhar com teatro, uma vez por ano isso se repete, e como nos teatros primordiais aquela será uma encenação única para os familiares que os visitam no fim do ano. Os prisioneiros passam pelo teste e são definidos seus papéis: Cesar, que morrerá, Brutus, seu assassino, Antonio que era o braço direito de Cesar etc... E os ensaios ocorrem nos corredores, pátios e salas da penitenciária.

Agora vem a beleza: lê-se e ensaia-se Shakespeare, e o texto é o que está ali escrito, mas seu sentido deixa de ser o da Roma antiga e passa a ser uma metaleitura do cotidiano da prisão e evidentemente, do mundo que vivemos nós que assistimos ao filme. Então quando gritam “liberdade, liberdade!!”, são os romanos, são os presos-atores italianos, somos nós. E são várias metaleituras o tempo todo. E quando os presos gritam pendurados como macacos nas suas janelas e grades, são os romanos que gritam, e quando os guardas querem ver como segue a cena do “assassinato” de Cesar, estão a observar a peça ou os presos na repetição de seus crimes?

Alguns presos estão condenados à pena perpétua, outros a mais de 15 anos, uma vida ali, perdida, e eles encenando a queda de um dos maiores imperadores. Nada de discussões fáceis se a arte valoriza o homem ou se ela serve a quem, nada disso, apena arte, apenas criação e apena a crença (como se isso fosse pouco) que nada mais resta senão criar. E que deleite!!! Com uma belíssima fotografia, carregada de contraste em preto e branco, vão se aproximando do momento da encenação, que ocorre nas cores também carregadas, mas agora de saturação vermelha sanguínea.

E o pano cai, acaba a peça, e Cesar voltará a sua cela, como Brutus e Antonio e todos os que viveram uma outra vida, que não a própria, pelo breve momento que dura a eternidade da criação.








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