On the Road – Na
estrada – Jack Kerouac
Dentre as inúmeras lacunas esta era uma das que vivia
aparecendo, seja pela citação do livro, seja pelos rumores que Walter Salles
estava filmando, seja por outras articulações. Quando o filme foi lançado
decidi que era hora de fazer o caminho rápido e comprei e comecei a ler o livro
antes de ir ao cinema. Vi o filme e não o recomendo, não é um filme que valha à pena, tem o ar datado, e vale
muito mais como o exercício e a vitória de ter enfim feito película o livro que
tinha essa aura de impossível.
Mas falo do livro. E infelizmente creio ser o filme melhor
que o próprio... nada muito diferente para dizer. Não acho o Kerouac o melhor
dos beatniks. Ferlinguetti e Ginsberg
na poesia, mas principalmente Neal Cassidy na prosa o ultrapassam em muito, na
qualidade do que escreveram e na intensidade que o movimento apregoava. Kerouac
é como o personagem alter-ego do livro, Sam Paradise, um moleque rebelde sem
causa, que quer viver experiências intensas para poder escrever sobre elas, não
alguém que não tem outra opção existencial que não o extremo. E isto faz toda a
diferença...
Então temos as idas e vindas do narrador, da costa leste
para a oeste, a volta, as idas, retornos, paradas, namoricos, paixões que vem
tão intensamente como vão, sexo, sexo, sexo, drogas, drogas, drogas, bebop, bebop e bebop, e uma
tentativa de indicar como isso era legal e bacana e que aquilo é que era a
vida. Pegar carona, encontrar vagabundos nos trens de carga, perder-se no mundo
e descobrir-se sem tostão nem rumo, ligar correndo para a titia mandar dinheiro
para poder voltar (essa é uma das indicações que ao contrário de outros membros
do movimento, Kerouac tinha uma salvaguarda confortável para protegê-lo) e
voltar para a farra, sexo, drogas e bebop
num loop cansativo e aborrecido. Chega um momento em que você se pergunta se é
só disso que tratará o livro, dessa tentativa de sair correndo e achar que vai
ser legal “porque sim”. E depois de algumas páginas sim, parece que é isso
mesmo. Chega um momento que você quer que o livro termine, porque ele é
repetitivo, aborrecido e cansativo, nada “incômodo”, revolucionário ou
subversivo.
E talvez esse seja um dos principais problemas em relação a
Kerouac e ao On the Road: criou-se
uma aura que o livro não merece. A subversão não se dá nessa tentativa
destemperada de viver intensamente, muito bem definida por um personagem do
livro como uma corrida sem sentido com um toque de psicopatia esquizofrênica,
nem se dá em nenhum outro momento do livro. Não é gratuito que o autor tenha
morrido gordo, conservador e vivendo na casa da mamãe, tendo brigado com todos
os amigos beats, a quem xingava de
comunistas, o fogo de palha do livro e dessa forma de vida besta queimou e não
fica nem uma brasa para manter acesa essa beleza da juventude, seja qual for a
beleza!
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