Medianeras
(ARG.2010)
Diretor: Gustavo
Taretto
Fala-se muito que o cinema
argentino dá um pau no brasileiro, naquele fla-flu estúpido que a gente replica
para poder afirmar alguma bobagem inútil. Temos o Lavoura Arcaica, eles tem filmaços também, então saindo desse
antagonismo tonto vamos ao cinema de los hermanos!
Eles fizeram dezenas de filmes
sobre a ditadura, pessoalmente cansei de ver o tema, que nem é leve nem
agradável, mas sempre acho que um filme não precisa ser sobre temas leves ou
agradáveis para ser bom (por sinal é quase o contrário...), mas cansei, como
filmes do holocausto nazista, cansei, verdade que quando aparece um A queda ou um O dia em que eu não nasci, vejo que não existe tema que não
possa ser revisitado criativa e poéticamente.
Bom, todo este prelúdio para
falar de um filme argentino que nem é da ditadura e nem do holocausto, mas uma
história de amor, moderna sem ser modernosa, contada de modo leve sem ser
superficial, engraçada sem ser boba, e palatável sem ser inócua, ou seja vários
adjetivos positivos para um tema difícil de não cair na vala dos clichês de
filme de amor.
E não é que o filme não passe por
alguns dos clichês, passa, a menina que está sozinha e o cara que também está.
Cada um com uns rolos que não dão em nada porque não se corresponde à
expectativa e necessidade recíproca. Ela é ativa, ele tímido e recluso, ela
sonha, ele sonha, ele tem um totó e ela manequins, e por aí vai, vários
elementos que poderiam nas mãos de um diretor boçal resultar numa novelinha
básica.
Mas ao contrário temos um filme
que ambientado em Buenos Aires, usa da cidade como cenário psicológico da
trama, insere os personagens não em qualquer cidade, mas NESTA cidade, e a
análise da dinâmica urbana é central para a dinâmica dos personagens, suas
dificuldades e soluções (que nem sempre solucionam algo...). Diz-se que filmes
de amor são todos iguais, e muitas vezes são mesmo, porque repetem uma mesma
trama abstratamente formatada, mudando o nome e o jeitão dos que a
representarão, aqui temos a graça de fazer esta uma história que ocorre só
porque é neste cenário que ela poderia se desenrolar.
E deste cenário o nome do filme.
Porque medianeras é o nome dado às laterais dos edifícios, aquelas superfícies
lisas e sem janelas ou recortes, chapadas, sem graça, sem expressão, a face
pobre de qualquer edifício. Usados urbanamente como gigantescos outdoors tentam
esconder o que são: o nada, o que fica entre a frente e a traseira do prédio,
mas um nada “em si” que serve apenas para isso que são tomados, espaço em
branco para preencher de ilusões. E é nesse espaço que os moradores dos prédios
abrem janelas irregulares e ilegais, criando espaço que não existem no
território dado, uma metáfora lindamente subversiva do poder que temos...
Pequenas pérolas, sacadas, frases, detalhes. Um filme para
ser assistido sem a pretensão de um clássico, mas com a atenção para as
sutilezas, que são sempre essenciais!!
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