sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Medianeras - Projeto Um filme quando valha a pena


Medianeras 

(ARG.2010)
Diretor: Gustavo Taretto

Fala-se muito que o cinema argentino dá um pau no brasileiro, naquele fla-flu estúpido que a gente replica para poder afirmar alguma bobagem inútil. Temos o Lavoura Arcaica, eles tem filmaços também, então saindo desse antagonismo tonto vamos ao cinema de los hermanos!

Eles fizeram dezenas de filmes sobre a ditadura, pessoalmente cansei de ver o tema, que nem é leve nem agradável, mas sempre acho que um filme não precisa ser sobre temas leves ou agradáveis para ser bom (por sinal é quase o contrário...), mas cansei, como filmes do holocausto nazista, cansei, verdade que quando aparece um A queda ou um O dia em que eu não nasci, vejo que não existe tema que não possa ser revisitado criativa e poéticamente.

Bom, todo este prelúdio para falar de um filme argentino que nem é da ditadura e nem do holocausto, mas uma história de amor, moderna sem ser modernosa, contada de modo leve sem ser superficial, engraçada sem ser boba, e palatável sem ser inócua, ou seja vários adjetivos positivos para um tema difícil de não cair na vala dos clichês de filme de amor.

E não é que o filme não passe por alguns dos clichês, passa, a menina que está sozinha e o cara que também está. Cada um com uns rolos que não dão em nada porque não se corresponde à expectativa e necessidade recíproca. Ela é ativa, ele tímido e recluso, ela sonha, ele sonha, ele tem um totó e ela manequins, e por aí vai, vários elementos que poderiam nas mãos de um diretor boçal resultar numa novelinha básica.

Mas ao contrário temos um filme que ambientado em Buenos Aires, usa da cidade como cenário psicológico da trama, insere os personagens não em qualquer cidade, mas NESTA cidade, e a análise da dinâmica urbana é central para a dinâmica dos personagens, suas dificuldades e soluções (que nem sempre solucionam algo...). Diz-se que filmes de amor são todos iguais, e muitas vezes são mesmo, porque repetem uma mesma trama abstratamente formatada, mudando o nome e o jeitão dos que a representarão, aqui temos a graça de fazer esta uma história que ocorre só porque é neste cenário que ela poderia se desenrolar.

E deste cenário o nome do filme. Porque medianeras é o nome dado às laterais dos edifícios, aquelas superfícies lisas e sem janelas ou recortes, chapadas, sem graça, sem expressão, a face pobre de qualquer edifício. Usados urbanamente como gigantescos outdoors tentam esconder o que são: o nada, o que fica entre a frente e a traseira do prédio, mas um nada “em si” que serve apenas para isso que são tomados, espaço em branco para preencher de ilusões. E é nesse espaço que os moradores dos prédios abrem janelas irregulares e ilegais, criando espaço que não existem no território dado, uma metáfora lindamente subversiva do poder que temos...

Pequenas pérolas, sacadas, frases, detalhes. Um filme para ser assistido sem a pretensão de um clássico, mas com a atenção para as sutilezas, que são sempre essenciais!!





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