Barcos de cascas de
melancia
(TUR.2004)
Diretor: Ahmet Ulucay
A Turquia tem essa riqueza que raramente chega aqui, então é
sempre um bom motivo para ver um filme quando ele tem essa origem, corremos
sempre o risco de ver algo delicado, diferente, interessante e provocativo.
Este filme é dessas pérolas que infelizmente correm o risco de passarem
despercebidas.
Dois amigos saem do campo, para lá dos cafundós e vão à
cidade (que é um pequeno povoado, mas menos cafundó que o sítio onde cada um
mora) trabalhar, um como ajudante de barbeiro e o outro como ajudante de
vendedor de melancia. Sofrem, o primeiro com as pancadas do chefe bruto e o
segundo com os amores incandescentes pela menina linda e mais velha, as dores
dessa transição para tornarmo-nos o que somos, e só pelo modo da narrativa já
valeria a pena ver este filme.
Mas há mais. Ambos tem amor pelo cinema e tentam construir
com recursos brancaleonescos os projetor para lá de mambembe. Claro que este
não funciona, a mãe do dono do “cinema” queima os pedaços de filme que eles
ganham do dono do cinema da cidade, não lhes faltam dificuldades e
impossibilidades mas, eles continuam, e continuam sonhando com o cinema, com
dinheiro, com o amor. Porque talvez nada mais possa existir que não o sonho,
assim como se não fosse pelo sonho, o que mais os manteria vivos?
E este é o filme. Lindo título, explicado em um momento do
filme, quando um deles afirma que barcos feitos de cascas de melancia afundam
rápido. Provocação para os que assistimos: e nossa ilusão, análoga muitas vezes
à deles, é ela também um barco desse material?
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