Palmeiras Selvagens (1939)
William Faulkner
Cosac Naif 2009
Há momentos na literatura que nos perguntamos como o autor
consegue, usando os recursos disponíveis para qualquer escritor, escalar um
patamar novo, diferente, mais poético, mais radical. Faulkner já o fizera em
seu O som e a fúria, levando ao
paroxismo fazer da escrita não um retrato do mundo, mas a construção de um
outro mundo, o das letras, o da arte, o da sensibilidade.
E passados poucos anos, ele cria não um, mas dois mundos
novos. Palmeiras selvagens é a história do médico apaixonado que abandona tudo
para ficar com uma esposa e mãe que também larga tudo para ficar com ele. E nos
abandonos fazem um pacto de não abandonarem o amor, não se deixarem matar pela
rotina e institucionalização de um casamento, de uma metódica repetição das
vidas sem sentido.
O velho é a história de um condenado que por causa de uma
inundação consegue um barco e atravessa uma provação para chegar ao lugar de
onde saíra, encontrando e salvando uma parturiente no caminho e vivendo
histórias inacreditáveis.
As histórias não tem aparentemente um diálogo entre si, os
personagens não se encontram e não participam do mesmo tempo-espaço. São por
isso, dois mundos literários distintos. Entretanto, e esta é a questão mais
bela do livro, as histórias intercaladas no livro tangenciam temas, nunca
explicitando-os, nunca escancarando essa sutil ligação, essa delicada
articulação. Morte, sexo, desejo, identidade, valores, filhos, liberdade. Temas
que se desenvolvem numa história, e que de outra forma, com outro enfoque, a
partir de outra intenção, serão tocados, organizados, lapidados na outra. Nunca
numa troca, nunca numa conexão, mas por meio de uma leve insinuação, fazendo
uma quase imperceptível iluminação mútua.
Delícia de livro em mais uma excelente edição da Cosac Naif.
Imperdível!!
Muito boa sua postagem
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