quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Onde sonham as formigas verdes - Projeto Um filme quando valha à pena



Onde sonham as formigas verdes

Werner Herzog
Alemanha Ocidental / Austrália 1984

30 anos atrás existiam duas Alemanhas, a do lado “de cá” tinha o Herzog fazendo filmes estupendos, dentre os quais este merece um carinho especial. Faz muito tempo, e ao mesmo tempo é tão recente!!!

Há muito, mas muito mais tempo ainda, houve o Tempo dos Sonhos, o tempo mítico dos aborígenes australianos, que no filme se reúnem para impedir explosões na terra que lhes é sagrada. Ali dormem e sonham as formigas verdes, elas sonham o tempo, o tempo dos sonhos em questão. Se as explosões coordenadas pelo geólogo Lance Hackett ocorrerem, elas irão embora e o mundo vai acabar.

Curiosamente o caso vai aos tribunais, e mais curiosamente o juiz é um cara muito consciencioso e razoável para as idiossincrasias culturais em questão. Não tão curiosamente assim eles perdem a causa e as formigas irão embora, como o tempo dos sonhos, como todo universo mítico/poético.

Há várias cenas inesquecíveis, emblemáticas da ruptura epistêmica e de imaginário que os separa dos ocidentais. Um grupo de aborígenes está no supermercado, sentados ao lado do sabão em pó e cera de sapatos, o geólogo pergunta ao atendente o que seria aquilo e ouve que ali estivera a única árvore de toda região, onde os pais vinha sonhar seus filhos, porque primeiro os pais necessitam sonhar os filhos para depois eles poderem nascer. Digam-me se a metáfora não é absolutamente poética e doce?

No tribunal um dos aborígenes começa a manifestar-se, mas ninguém pode traduzi-lo, o juiz interpela os outros aborígenes, pois aquele que falara havia sido descrito como mudo. Na verdade, sua língua não é entendida por ninguém mais, ele é o último representante da tribo, e por não ser inteligível chamam-no “mudo”.

E por aí vai. Muito antes do discurso ecologista, muito antes de muitas coisas já estava esse fabuloso e ao mesmo tempo simples filme, dizendo poeticamente as belezas e dores da perda do sonho. E das formigas verdes...








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