Propriedade Privada
Isabelle Huppert costuma sempre ser uma boa razão para ver
um filme. Atuações precisas, num crescendo de intensidade que em algum momento
transbordam para a insanidade a intensidade ou outra alteração visceral e
incontrolada de personagens usualmente borderlines,
fronteiriços entre a loucura e uma organização mais ou menos estruturada.
Neste filme, o atrativo inicial foi sua presença, mas logo
me desencantei. Tive um ingrato deja-vu,
e parecia que todas suas outras atuações estavam ali, condensadas mas,
infelizmente, repetidas. Parecia que trechos de vários filmes se sobrepunham a
este e eu me perguntava se todos os diretores a escolhem para papéis iguais ou
se ela “huppertiza” todas suas interpretações.
Mas o filme segue. Um casal separado há 10 anos tem tensão constante,
muito dela gerada pela ex esposa que espezinha o ex marido. Os filhos gêmeos são
complementares um ao outro nas dinâmicas, um mais amoroso o outro mais
incisivo. Um mais prático o outro mais tranqüilo. E são complementares à
situação da família, acomodando-se como adultos jovens à comodidade da casa da
mamãe.
Conflitos vão emergindo conforme esse equilíbrio sofrido,
mas estável vai se desorganizando, por desejos novos e a entrada de um patético
namorado da mãe. Conflitos inclusive entre os irmãos, sempre muito unidos.
Conflito esse que acaba num empurrão bruto e numa queda. Terminamos o filme sem
saber o resultado da queda (ponto para o filme!!!).
E terminamos o filme com uma cena de uma intensidade
dramática impressionante: o pai e a mãe ajoelhados no chão, tomando os pedaços
da mesa de vidro quebrada na queda do filho, sem falar, sem chorar, sem nada
mais fazer senão aquilo que é a única coisa possível de ser feita quando tudo
mais está roto: recolher os cacos.
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