Nova antologia do conto
russo
Uma antologia é um risco. Você junta 40 autores russos,
seleciona contos que ou não foram publicados antes, ou são muito
representativos, ou merecem vir a publico, e dá ao leitor uma oportunidade
única de percorrer 200 anos de narrativas curtas russas. Não preciso dizer que
a variedade tem seu custo. Alguns dos contos são muito bons, outros médios e
outros fraquinhos. Não pretendo falar de cada um, porque seriam 40 comentários,
mas queria aproveitar o conjunto da experiência da leitura.
Porque temos o primeiro conto, escrito há 200 anos, e ele
tem uma puerilidade narrativa tal, que parece uma criança de 8 anos contando
uma história para o primo menor de 4 anos, os eventos se encaixam como uma
luva, não há margem para outros sentidos e sabemos o final da história assim
que os personagens se apresentam. O interessante é pensar que o contar
histórias teve esse momento. Narrar já foi contar histórias de um modo que hoje
é óbvio e não estimula a imaginação e a abertura. E infelizmente não posso
dizer que esse momento acabou, porque seja nos filmes roliudianos, nos livros
cretino-juvenis (me recuso a chamar de infanto juvenis, o que seria uma afronta
aos livros decentes escritos para crianças e jovens) ou nos programas
televisivos correntes, temos essa mesma narrativa óbvia, fechada a outros
sentidos que aqueles dados pela intenção do autor. Obras fechadas.
Este é um livro que, se eu estivesse dando aula para
psicólogos, pedagogos ou qualquer profissional que trabalhe com gente, iria
propor como leitura obrigatória durante um semestre apenas este livro, porque
se há algo que é fundamental aprendermos, é que nunca há apenas uma história,
uma forma de contar histórias, uma solução para a história trazida.
E há mais 39 outros contos e autores, alguns consagrados e
conhecidos do grande publico, outros traduzidos pela primeira vez no Brasil. Há
os que desenvolvem histórias com uma fluidez impressionante, outros que rompem
com nossas expectativas e imaginam temas novos, instigantes, radicais. Assim também
são as narrativas e a variedade delas, até o começo do século XX as
acompanhamos bem, com a virada do século as experimentações se seguem, algumas
mais felizes que outras. Algumas abrindo possibilidades de leitura, compreensão
e descoberta, outras só experimentações, só isso, vazias e estéreis como parte
da arte do século passado foi.
Mas um livro imperdível, pela abrangência, abertura e
generosidade de opções!!
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