Juventude
Paolo Sorrentino
Itália-França-Suíça-Reino
Unido
2015
De tempos em tempos acontece de
assistir um filme que me obriga a escrever, indicar, compartilhar, sugerir,
dizer dele e tentar que mais pessoas possam ver. Se há alguma maravilha em
garimpar as esquisitices do cinema, é eventualmente deparar-se com uma jóia
como esta, uma pérola que nos faz relembrar qual o sentido da arte e por
conseguinte do cinema: tocar-nos, transformar-nos, levar-nos aonde nunca
havíamos estado antes.
É muito raro ver um filme que não
tem nenhuma cena desnecessária, nenhuma fala supérflua, nada acontecendo sem um
propósito certeiro e ao mesmo tempo sem ser forçado ou artificial. Este é um
destes raros exemplos. Cada tomada conta o que necessitamos saber, sem excessos
e sem falhas, um ritmo ágil sem a necessidade do frenesi que muitas vezes
esconde a falta de conteúdo. Cada imagem parece ter sido estudada como um
quadro, uma pintura ou uma instalação: a luz, as cores, o enquadramento, a
posição dos personagens, o fundo, figurinos e cenário, música, diálogos e
silêncios, olhares, insinuações. A cada cena um passo mais na construção de uma
narrativa emocional, comovente sem cair na pieguice ou na apelação tão costumeira.
Chora-se, de verdade.
Filme que se preza não conta uma
história, conta várias, muitas vezes entrelaçadas mas, nos melhores casos,
sobrepostas como palimpsestos de sentido e significado, de ideias, filosofia,
comentários e sentimentos, interações entre personagens e destinos. Disto tudo
fala este filme.
E se não vou dizer muito do que
ocorre, é porque ocorrem muitas coisas e, ao mesmo tempo, muito poucas: é como
aquela sensação dos momentos importantes, nos que entende-se algo fundamental,
que muda muito a posição na vida, mas se vamos contar, parece que faltam
palavras para dizer com exatidão a dimensão do ocorrido, a isso se chama
epifania, também conhecida como iluminação. O filme é, mais que tudo,
iluminado.
E parte da sua força e brilho
está exatamente em fazer a tensão entre a morte, que ronda o tempo todo a
narrativa, e a vida, que explode a todo momento na magnitude de uma natureza
generosa e uma humanidade presente.
Michael Cain divide o
protagonismo com Harvey Keitel, ambos esplendorosos, e a eles se soma uma bela
quantidade heterogênea de atores variados, compondo um mosaico complexo,
volátil e rico de interações. Alguns atores são melhores, outros nem tanto,
alguns muito jovens, outros trazem claramente as marcas do que o tempo faz com
as pessoas.
Suponho que o diretor Paolo
Sorrentino, do qual A grande Beleza já havia sido indicado ao Oscar de melhor filme
estrangeiro dure muito, mas se tivesse morrido depois deste filme diríamos que
foi seu mais belo testamento, algo por sinal que atravessa o filme todo, o que
deixamos como legado, o que nos afirma como indivíduos e ações, o que nos
mantém vivos.
Isto nos mantém, vivos.
Aluga-se?
ResponderExcluirSempre disponivel na W24...
ExcluirYeahhh!
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