quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Decálogo – 1º Mandamento - Projeto Um filme quando valha a pena



Decálogo – 1º Mandamento - 
 Amarás a deus sobre todas as coisas


Krzysztof Kieslowski
Polônia. 1990

Houve um tempo em que se fazia cinema com o que se tinha, e em alguns lugares isso significava ter muito pouco. Na Polônia pós queda do muro de Berlim isso era menos ainda. Equipamento ruim, áudio ruim, fotografia precária, locações “naturalistas”, o que significa dizer, o que dava prá fazer, onde e como desse.

Nesse contexto tinha-se de investir na história e ponto final. E a narrativa tinha de sustentar-se e dizer a que vinha por si, sem efeitos, sem recursos, sem nada, a não ser um diretor excepcional, um roteiro brilhantemente articulado e dois atores que fazem com que todo o resto deixe de ter importância.

Quando Kieslowski morreu foi-se um grande diretor, carreira merecedora de toda admiração, fosse por ter conseguido fazer arte com muito pouco (como na época deste Decálogo) fosse depois, já emigrado para a França, onde fez os maravilhosos A dupla vida de Veronique e a fantástica trilogia das cores ( A liberdade é Azul, A fraternidade é Branca e a Igualdade é Vermelha). Foi-se um grande diretor que conseguia algo cada vez mais raro e difícil, pensar o cinema fazendo-o, sem blá-blá-blá, sem masturbação mental, sem discursinhos apologéticos.

Então vamos lá. Moisés trouxe do Sinai as tábuas com os 10 mandamentos, Kieslowski resolve usar o mote do decálogo para filmar não uma reprodução ou um filme de época, mas uma atualização E ao mesmo tempo uma crítica E ao mesmo tempo uma subversão contemporânea disso.

Papai é matemático, ateu convicto e crente no poder do cálculo da lógica e dos computadores, que respondem tudo que ele quer saber. Pawel é o filho, fofo, lindo de olhos grandes, interessado e ainda em dúvida se existe algo além da vã filosofia no reino humano. Perguntam ao computador qual o peso que o gelo do rio congelado suportaria, e o resultado dá com ampla margem de segurança a certeza que Pawel pode patinar no gelo com os presente de natal que encontrou antecipadamente.

Não se critica o pai ou o filho pelo agnosticismo ou pela crença na tecnologia. Não se apresenta a crença em deus ou no diabo como algo necessário. Sem apologias ou recriminações somos lançados ao sofrimento da perda do que mais se ama, o filho, a lógica, a certeza. E o melhor, este é apenas o primeiro dos mandamentos, e ele nos diz para amar a deus acima de todas as coisas. Nada como os paradoxos...










Um comentário:

  1. Albor... Está disponível na locadora da Visconde de Pirajá? Outra coisa (para não arriscar tomar um rolo de macarrao na cabeça): o menino morre?

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