terça-feira, 2 de outubro de 2012

Intocáveis - Projeto Um filme quando valha a pena



Intocáveis
(Fra.2011)
Diretores: Eric Toledano, Olivier Nakache

Tenho dificuldade com comédias. Acho-as ridículas, gênero menor do cinema, apelando para a vulgarização, para o que temos de mais baixo, para preconceitos primários, ou ainda são fundadas em idéias, são comédias para entender e “rir” porque a idéia deveria ser muito engraçada, ainda que sua realização como filme não tenha a menor graça.

Então quando fico sabendo de alguma comédia arrebatando público saio correndo na direção oposta, as vezes em que tentei assistir, me arrependi de não ter feito os 100 metros rasos na linha de fuga. Por isso minha surpresa e alegria foi incontinenti ao assistir Intocáveis, já sabendo que era o filme francês de maior bilheteria e sucesso do ano.

Porque o filme é genial. Não consigo imaginar quem no mundo não gostará deste filme. Engraçado, inteligente, esperto, crítico, ácido até, mas acima de tudo, amoroso e cuidadoso com a humanidade da platéia, que consegue divertir-se sem ter de contentar-se em chafurdar na pocilga de preconceitos e vulgaridades para rir aquele riso repetido pelo (e do) que se conhece.

Uma das piores construções do fim do século XX e começo do XXI é o politicamente correto, essa necessidade de fazer de conta que não há diferenças, não há preconceitos e não somos todos atravessados por dificuldades em reconhecer o outro na estatura que ele gostaria de ter. O contorcionismo verbal que nos faz chamar o índio de nativo sul americano, ou o negro de afro descendente pode acalmar ânimos preconceituosos, mas esconde tudo o que sentimos pelos índios, negros, mulheres, minorias variadas e quaisquer outros que não sejam nossa imagem e semelhança.  Quando o filme foca a relação de um tetraplégico milionário branco e seu cuidador, um negro sem a menor queda pela condescendência, abre um espaço arriscado para que aquela série de preconceitos e vulgaridades tomasse a frente, ou para que o politicamente correto se fizesse ouvir, pela assepsia de piadas cuidadas a não ofender e ferir espíritos mais sensíveis.

Nada disso, temos aqui um humor vigoroso, sem pruridos de tocar temas delicados, rindo de si mesmo, do outro, do mundo e da platéia, de ícones culturais, da “alta” cultura, das relações amorosas, dos preconceitos, da cretinice revestida de bondade humana, deixando uma única coisa em pé depois de hora e meia de riso e momentos emocionados: a vida só faz sentido se enfrentada com a honestidade de que as diferenças são diferenças, e que nós nos fazemos.




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