quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Os espólios de Poynton – Henry James - Projeto um livro sempre


Os espólios de Poynton – Henry James

A literatura como qualquer das artes, existe quanto mais nos leve para outro lugar que aquele onde estamos, usando Fernando Pessoa, quanto mais nos mova, de nós. Ler é viver a possibilidade de estar em outro lugar e, desse outro lugar, ver e viver o mundo com outra perspectiva.

Quando o norte americano de nascença e britânico de adoção Henry James passa 200 páginas desenrolando uma trama sobre móveis e objetos de uma casa (a localizada na Poynton do título), e da disputa que os personagens desenvolvem sobre esses objetos, senti inicialmente a distância, o estranhamento e até o incômodo, de me ver num universo, que no meu imaginário é britânico, de aparências, formalidades sociais, jogos de convivência e cuidados.

Gradualmente porém, fui entrando naquela trama e percebendo que, como em qualquer trama artística, o tema do que se fala é uma das camadas significantes, mas há outras, do que se permite falar, e ver, e imaginar, sem ser sequer nomeado. E aí o texto ganha vida, brilho e intensidade. Como nas histórias de cavalaria medieval, nas que o amor nunca se consumia, mas era intensamente vivido, é a ausência, o não dito, o intuído que faz a potência do texto e permite que leiamos não o que está escrito no texto, mas o que o texto permite ver.

É uma história de amor, amor temido, amor correspondido, amor perdido. Mas é também uma história de perdas, perdas materiais, amorosas, temporais, de oportunidades. Acima de tudo é um jogo de xadrez estratégico, mas quem ganha é quem em algum momento resolve quebrar as regras do jogo, deixando de se importar com os desdobramentos sociais, e assumindo apenas o desejo e a necessidade.

Dostoievsky é visto como o grande psicólogo da alma russa ( o próximo a ser postado será dele por sinal), bem, Henry James creio que merece titulo análogo da alma britânica, para os que a idealizam, um ótimo meio de visualizar o que pode estar conjugado ...


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