Liberdade – Jonathan Franzen
Vendo tantos livros infanto-juvenis de 500 páginas, poderÃamos pensar que é fácil fazer um livro volumoso. Enche-se lingüiça por 350 páginas, precedidas por uma introdução que apresente os personagens, e sucedida por uma conclusão que dê conta, de algum modo, dos desdobramentos que aquela lingüiça enchida no miolo pede que ocorra.
Por isso é sempre uma alegria chegar à literatura que nos desafia e que não entra nessa fórmula de facilitar a vida nem do leitor e muito menos do autor, que necessita criar um modo de contar a história. O mais lindo é quando o modo de contar a história é a própria história, numa união intrÃnseca na que o método e o objeto são unos.
Comecei Liberdade depois da densidade de As Benevolentes, e as primeiras dezenas de páginas não me animaram. Aquela superficialidade que muitas vezes romances estadunidenses tem, aquela ambientação conhecida, uma historia aparentemente conhecida e sem muitas possibilidades de surpresa.
Uma famÃlia disfuncional, personagens que não chegam a ser antipáticos, mas tampouco nos cativam, uma dona de casa meio obsessiva, um marido bonzinho, filhos buscando seu modo de ser, vizinhos reclamando, amigos eventuais, um amante...
Claro que se a história seguiu, e conseguiu criar uma atenção, é porque o modo como a história foi contada fez com que esses personagens ganhassem uma complexidade. O livro todo é a busca da liberdade, sem que em nenhum momento isso seja dito (mas um autor não nomeia sua obra gratuitamente), e todas as ações, desencontros e tentativas miram o tempo todo esse valor.
O final feliz, frustrante como arremate de 600 páginas de idas e vindas tensas, não deixa de abrir uma afirmação desconfortável: não há liberdade senão na manutenção do que se tem desde sempre, seja afetiva, econômica ou socialmente falando. Liberdade seria ater-se ao que se vislumbrou quando se tinha 20 anos, como se a linha reta de uma vida fosse possÃvel, e só na retidão de um desejo conseguido poderÃamos ver a obtenção dessa liberdade.
Ou o contrário, os personagens nas idas e vindas, peripécias e tentativas acabam acomodando-se aos padrões anteriores, abrindo mão da liberdade, com a que não conseguiram lidar ao longo da vida.
Como todo livro que valha a pena, é o leitor que fará a leitura...
E para concluir temos a capa do livro, uma bela foto da cerca de madeira branca, indicador eterno do projeto de tranqüilidade e descanso do imaginário gringo. Linda foto porque apenas as pontas estão banhadas pelo sol, tendo nuvens ao fundo. Todo o restante da cerca num assombreamento cinza, metáfora visual do que o livro prepara.
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