O filho Terno – Projeto Frankenstein: Kornél
Mundruczó
Filmaço Hungaro, desses que são imperdíveis porque sim. Da
Hungria temos o maravilhoso Bela Tarr com uma filmografia intensa, onírica,
radical na linguagem e intenções, só por ele a Hungria já merecia atenção.
Agora vi este filme que tem desde o nome, uma conexão com o romance de Mary
Shelley, Frankenstein, pouco lido mas muito assistido em diversas e usualmente
medíocres adaptações.
Conhecida história do médico louco que resolve criar um ser
vivo a partir de um corpo morto. Não há quem não tenha visto desenhos animados,
histórias em quadrinhos, filmes classe B (C, D E ...) e outras referencias à
idéia frankensteiniana. Meio na piada, deboche, meio no querer fazer susto, é
sempre algo que beira o ridículo ou a gosma repulsiva.
Bem, aí temos uma apropriação do diretor Kornél
Mundruczó, uma leitura, uma ressonância, para usar um conceito que nos é
tão caro, do romance, e veremos um filme no que não haverá nenhum dos clichês
do gênero e o melhor, sabemos o tempo todo que é de Frankenstein que estamos
falando, o filme é embebido naquela mitologia, conseguindo a proeza de
atualizá-la de um modo criativo e contemporâneo interessantíssimo.
Um diretor de cinema resolve fazer seleção para seu novo
filme, e pede a cada candidato que chore frente à câmera. Dos vários e
patéticos candidatos um chama a sua atenção, não pela expressividade, já que
parece um robô, mas por algo mais intuitivo. Uma sequencia de crimes ocorrerá,
e não vou contar para não estragar o encadeamento do filme, mas no que nos
interessa, uma tentativa desesperada desse diretor fazer com que esse candidato
se transforme em gente, que daquela massa informe e insensível nasça uma pessoa
afetiva.
Essa é a chave que me encantou: tomar o mito Frankenstein
como uma metáfora (que é o que ele é e sempre foi, desde o romance de Shelley)
e não como uma concretude, uma literalidade. O Frankenstein como a morte
afetiva, a insensibilidade das e nas relações, a pobreza não só de movimentos e
expressões, mas de recursos pessoais, criatividade, beleza.
E eu me perguntava como é que um filme bacana destes ia
terminar, se com uma finalização a lá auto-ajuda, com um fim abrupto, com algo
inesperado. E o fim não decepciona. Na verdade seria o único fim possível para
uma empreitada desde sempre destinada ao fracasso, da tentativa de um pai
tornar sua criatura monstruosa algo melhor. Mas tampouco conto aqui o que
acontece, deixo a indagação e a curiosidade para estímulo!!
Bacana!!!
ResponderExcluirMuito bom
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